Produtividade: o que é, por que importa, e o que fazer para mudá-la

Por sua relevância, a produtividade é um dos temas mais estudados da economia. Para Krugman (1991), “produtividade não é tudo, mas no longo prazo é quase tudo. A capacidade de um país elevar a qualidade de vida ao longo do tempo depende quase inteiramente da sua capacidade de aumentar a sua produção por trabalhador”. Na literatura de crescimento, é quase consenso que a única fonte de crescimento econômico sustentado no longo prazo é o aumento de produtividade.

Ademais, o crescimento de produtividade está associado ao aumento do produto potencial, à menor volatilidade do crescimento, à maior competitividade internacional dos países, à melhoria do bem-estar da população, à redução da pobreza e ao aumento da competitividade das empresas (ARBACHE, 2013). Portanto, entender o que determina a produtividade é de suma importância, em especial para países em desenvolvimento, como o Brasil.

O debate torna-se ainda mais relevante já que o Brasil tem apenas a 78º maior nível de produtividade do trabalho do mundo. Ainda mais grave, o crescimento desse nível desde 1980 foi de 0,2% ao ano, o 92º maior crescimento (The Conference Board, 2019). Ou seja, a produtividade no Brasil é baixa e está estagnada. De acordo com os mesmos dados, na média, um trabalhador americano gera aproximadamente o mesmo valor adicionado que quatro trabalhadores brasileiros.

Isso é especialmente importante para o Sebrae pois 99% das empresas do Brasil são pequenos negócios e, na média, uma microempresa tem apenas um décimo da produtividade de uma grande empresa (CEPAL & OCDE, 2012). Fica claro que o aumento da produtividade no Brasil passa, necessariamente, pelo aumento da produtividade dos pequenos negócios.

Mas o que é produtividade? Nada mais do que a divisão entre produção e um ou mais insumo de produção. Portanto, “carros por trabalhador”, “quilos de mel por colmeia”, “vendas por hora” ou “marmitas feitas por hora” são todos exemplos de medidas de produtividade. Porém, por melhores que sejam essas medidas, elas não permitem comparação entre segmentos e setores.

Portanto, em geral, utiliza-se a razão de valor adicionado[1] por pessoal ocupado quando se quer medir o nível de produtividade de uma empresa, segmento, setor ou país. A medida de quanto cada pessoa ocupada contribui para adicionar valor em um processo de produção ou prestação de serviço é direta e comparável entre todos os setores da economia ou até mesmo países.

Por ter forte correlação com o crescimento da renda per capita, há uma vasta literatura a respeito do que determina a produtividade de uma empresa ou de um país. Esses determinantes podem ser divididos em três grupos: fatores extrafirma, fatores intrafirma e fatores “entre firmas”.

 

Fatores extrafirma

Nesse grupo, incluem-se como fatores principais:

  • Infraestrutura
    • Não apenas logística: banda larga rápida e confiável é fator essencial para a produtividade. De acordo com Borges (2017), se a infraestrutura brasileira chegasse a níveis de qualidade próximos à média global, poderíamos observar um crescimento de produtividade próximo a 10%.
  • Regulação
    • Reduzir a fricção para se fazer negócios em um país, em especial com relação à abertura e fechamento de empresas e o cumprimento das obrigações fiscais e não-fiscais tem impacto significativo na produtividade. Um sistema que não onera demasiadamente as empresas e que permite a livre entrada (e saída) de novas empresas promove um ambiente de competição, pelo qual serão selecionadas as empresas mais eficientes. Outro fator essencial nessa área é que o sistema tributário não desestimule o crescimento das empresas ou mantenha empresas ineficientes artificialmente vivas no mercado. Estudos da OCDE ressaltam que a existência de firmas “zumbis” (empresas de baixa produtividade que seguem vivas) é extremamente negativo para a produtividade de um país.
  • Mercado de trabalho
    • A qualidade do mercado de trabalho também é importante fator determinante da produtividade. Não apenas a qualificação dos profissionais disponíveis, mas o aumento da participação feminina no mercado de trabalho, a existência de mecanismos que facilitem o acesso de pequenos negócios a profissionais qualificados e a abertura para profissionais estrangeiros afetam a produtividade. Em geral, quanto maior a competição, maior será a produtividade, e isso não é diferente para o mercado de trabalho. Segundo Borges (2017), o simples aumento da participação das mulheres no mercado de trabalho para índices próximos aos de países desenvolvidos e
  • Estrutura de mercado (competição)
    • A estrutura de mercado, principalmente no que tange à competição, é extremamente relevante para explicar a produtividade. Setores em que há monopólios ou oligopólios tendem a ter menor nível de produtividade. Isso porque a competição, além de tirar do mercado empresas menos produtivas, força as empresas a buscarem formas de reduzir custos e aumentar a entrega de valor aos seus clientes, o que leva ao incremento de produtividade. Daí a importância da defesa ativa da concorrência e de se buscar uma maior abertura comercial.
  • Composição setorial
    • Setores mais tradicionais tendem, naturalmente, a ter menor produtividade, portanto, como empresas e empregados se distribuem em termos de segmentos e setores tem relevância na produtividade. Além disso, incentivos setoriais, como sistemas tributários com muitas diferenças entre setores podem causar má alocação de recursos, o que, por sua vez, afeta negativamente a produtividade.

 

Fatores intrafirma

Os fatores intrafirma tem enorme relevância para explicar a produtividade. Desses, destacam-se:

  • Qualidade de gestão
    • Está cada vez mais claro que a qualidade de gestão tem grande relevância na produtividade. De acordo com dados da World Management Survey, até 30% da diferença de produtividade entre países e empresas é explicada pela qualidade de gestão das empresas (Bloom, et al, 2017). O monitoramento por indicadores, a existência de uma gestão por metas e uma gestão de recursos humanos que incentivem os colaboradores mais eficientes são essenciais para a produtividade.
  • Capital humano
    • Além do nível de escolaridade de empregados e empresários, o aprendizado específico de uma empresa, o learning-by-doing (aprendizado por experiência) e os transbordamentos de conhecimento são de grande relevância para a produtividade. A alta rotatividade do trabalho que existe no Brasil, por exemplo, não contribui para a aprendizado prático e específico de cada empresa.
  • P&D e inovação
    • A inovação contribui para a diferenciação e aumento do valor de produtos e serviços, além de contribuírem para o aumento da eficiência no processo produtivo. De acordo com Moreira (2015), o consumo, por parte de empresas, dos chamados “serviços de agregação de valor[2]”, como P&D e design, está associado a um maior nível de produtividade do trabalho.
  • Tamanho das empresas
    • Em geral, firmas de maior porte têm ganho de escala, maior poder de negociação e financiamento e maiores níveis de investimento em P&D. Em um sistema que não pune o crescimento, empresas mais produtivas deveriam crescer e as menos produtivas, morrer. Porém, pequenos negócios tendem a ser mais produtivos que empresas em segmentos em que não há tantos ganhos de escala (algumas empresas de software, por exemplo) ou quando atuam em nichos e, assim, conseguem gerar mais valor adicionado por trabalhador (como algumas microcervejarias, produtos artesanais, etc).
  • Exportação
    • Arbache (2005) mostra que exportar torna as empresas maiores e mais produtivas, especialmente quando a empresa inova para conseguir alcançar o mercado externo. Esse aumento de produtividade acontece porque as empresas têm que chegar próximas da fronteira de eficiência do setor para serem competitivas internacionalmente. Além disso, para manter a relevância, essas empresas devem seguir diferenciando seus bens e serviços e se adaptando às exigências do mercado. Por fim, há um learning-by-exporting: ao exportar, as empresas têm mais contato com tecnologias de gestão e produção de ponta.

 

Fatores “entre firmas”

Os fatores “entre firmas” são os transbordamentos (positivos e negativos) de produtividade que ocorrem pelo contato entre empresas, sejam elas concorrentes, fornecedoras ou compradoras. Os principais fatores são:

  • Transbordamentos horizontais
    • A aglomeração de empresas de uma mesma cadeia, como ocorre no Vale do Silício, podem impactar positivamente a produtividade, por trazerem consigo o encurtamento de cadeias, a disponibilidade de capital humano específico qualificado e o aprendizado por imitação. Há também fortes evidências mostrando que a entrada de multinacionais em um setor tende a elevar a produtividade de suas concorrentes, por motivos similares (imitação, aumento da competição, etc).
  • Transbordamentos verticais para frente
    • Um fornecedor qualificado tende a disponibilizar insumos melhores e, em alguns casos, mais baratos. Além disso, esses fornecedores muitas vezes disponibilizam serviços pós-venda, que podem incluir transferência de conhecimento. Similarmente, um fornecedor pouco qualificado pode prejudicar a produtividade de um comprador ao atrasar nas suas entregas ou providenciar insumos de pior qualidade.
  • Transbordamentos verticais para trás
    • O transbordamento de produtividade de comprador para fornecedor pode se dar por transferência de conhecimento e tecnologia; aumento da demanda (que pode gerar economia de escala); demanda por insumos de mais qualidade e entregas no prazo, o que gera melhorias de gestão e tecnologia. Portanto, uma empresa compradora pode “puxar” a produtividade de um fornecedor menos produtivo.

 

Conclusão

O aumento da produtividade está associado ao aumento da qualidade de vida de um país e da competitividade de suas empresas. Devido ao caráter multidimensional da produtividade, uma abordagem que atue nos três tipos de fatores pode ter mais possibilidade de sucesso.

 

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Referências:

 

 

[1] Valor adicionado, segundo definição do IBGE (2017), “é a diferença entre o valor bruto da produção e o consumo intermediário. Refere-se ao valor que a atividade acrescenta aos bens e serviços consumidos no seu processo produtivo.” Importante ressaltar que salários não são incluídos no consumo intermediário.

[2] Serviços de agregação de valor é um conceito introduzido por Arbache (2014) para aquelas atividades que contribuem para a customização e diferenciação de bens e serviços, aumentando o preço de mercado, produtividade e retorno do capital. Esses serviços incluem P&D, design, consultorias de gestão, engenharia, arquitetura, produção de softwares, branding, marketing, etc.